Razões do Blog


Este blog foi criado para apoiar a candidatura de José Serra à presidência do Brasil, por entendermos ser o candidato mais preparado, em todos os aspectos pessoais, políticos e administrativos. Infelizmente o governo assistencialista de Lula e a sua grande popularidade elegeram Dilma Rousseff.
Como discordamos totalmente da ideologia e dos métodos do PT, calcados em estatismo, corporativismo, aparelhamento, autoritarismo, corrupção, etc., o blog passou a ser um veículo de oposição ao governo petista. Sugestões e comentários poderão ser enviados para o email pblcefor@yahoo.com.br .

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Serra demonstra coerência de princípios


Um jogo muito bem feito

Renato Janine Ribeiro, para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 21/05/2010

 
José Serra foi hábil na sua entrevista à jornalista Miriam Leitão, na rádio CBN, dias atrás. Alguns o acharam rude. Ele teve, porém, a qualidade da franqueza. Serra deixou clara sua ruptura com princípios básicos do governo Fernando Henrique. Tachou de "bobagem" a ideia de independência do Banco Central. "Você e o pessoal do sistema financeiro podem ficar tranquilos", disse Serra, ironizando uma das porta-vozes do antilulismo econômico.
Na eleição de 2002, Serra viveu uma situação delicada, porque, embora discordasse da política financeira do presidente FHC, não podia atacá-lo. Afinal, era o seu candidato. Mas, hoje, isso mudou. Fernando Henrique pertence à nossa história. Ele e Lula ficarão no rol de nossos chefes de Estado mais notáveis. Só que FHC aparece como alguém que completou sua tarefa, com a estabilização monetária (1994), o esvaziamento da direita pró-ditadura (ao longo do mandato) e a transição pacífica para um presidente de esquerda (2002). Serra pode marcar sem problemas sua distância dele. Daí que também procure polir credenciais de esquerda, por exemplo, elogiando no "Globo" a economista, hoje petista, Maria da Conceição Tavares.
Se o PT quer fazer da campanha uma disputa FHC-Lula, Serra responde se afastando do primeiro e elogiando o segundo sempre que pode - como, por exemplo, quando o presidente foi prestigiado pela revista "Time". Na verdade, Serra procura fazer que não só FHC, mas também Lula, ocupem um lugar na história. Em inglês, "I am history" significa: passou o meu tempo. Para Serra, o ideal é que ambos sejam figuras históricas - no passado. Só acho muito difícil dizer que Lula saiu do presente e foi para a história. Mas, como ele não é candidato em 2010...
A direita necessariamente há de votar em Serra. Por isso, ele pode atacar uma das expoentes da direita civilizada. Também a direita troglodita votará nele. Afinal, a direita passou anos atacando o PT, tanto que não quis ou não pôde construir uma alternativa própria. No Brasil, a direita não anula o voto. Não inventará um candidato só para marcar posição. Isso é coisa que a esquerda faz, ou os verdes. A direita sempre foi realista, mesmo ao custo de apoiar um candidato que talvez não faça tudo o que ela quer.
Serra tem assim garantida a direita e pode praticamente ignorá-la. Precisa conquistar o centro e talvez um pouco da esquerda. Já a candidata do PT tem um problema maior de equilíbrio. Se Dilma pender muito para o centro ou mesmo para a direita, perde à esquerda. Na esquerda, há quem anule o voto.
Mas, enfim, desde o começo Dilma e o presidente Lula sabiam que a tarefa era difícil. O PT perdeu vários de seus presidenciáveis na crise do mensalão, cinco anos atrás. Dispunha de bom número de líderes disputando o pós-Lula, mas muitos se queimaram. Dentre os restantes, o presidente decidiu sagrar o menos político e partidário dos pretendentes (menos do que Marta, Patrus, Suplicy, Tarso ou Wagner, que cito em ordem alfabética), em vez de correr o risco de prévias que, na verdade, nenhum partido brasileiro quer fazer. Dilma deverá, pois, contar com o desempenho da economia, que se anuncia ótimo este ano, e com seus dividendos sociais, para a eleição. Mas, sobretudo, terá de traduzir isso em discurso. Não basta o PIB nem Lula: precisa haver desempenho.
O que o bate-boca de Serra com Miriam Leitão mostra? Que a direita continua fora da grande cena política brasileira. Elegeu Collor, em 1989. Mas, nos dois mandatos de FHC, esteve reduzida a apoiar o presidente, em posição cada vez mais subalterna. Compare-se o papel de Antonio Carlos Magalhães no primeiro mandato de FHC, quando ele e o filho presidiam as casas do Congresso, e no segundo, quando se reduziu a um político estadual. Hoje, o principal partido da direita, o DEM, está fraco. Até pode recuperar algum vigor, porque, afinal, representa parte razoável da opinião pública. Mas não consegue articular essa simpatia de uma opinião conservadora com líderes políticos próprios, em que ela vote.
Quando Serra exclui a hipótese de que os bancos mandem na política econômica, marca-se uma derrota definitiva da direita. Para além da campanha eleitoral, esse é um triunfo da democracia e do bom senso. Não estivéssemos em ano de eleições, ele uniria - em vez de dividir - Serra e o PT.
A estratégia do candidato tucano, por enquanto, parece funcionar. Num artigo inteligente, Fernando Abrucio recentemente comparava os elogios de Serra a Lula aos ataques de seus companheiros ao presidente, e via nessa contradição um problema. Talvez não seja. Talvez seja uma divisão de tarefas. Mas, sobretudo, isso mostra por que o candidato é Serra, não os outros. Aos coadjuvantes, resta o trabalho feio, que garante os votos da direita, inclusive a direita mal- educada. Serra, enquanto isso, constroi sua imagem de estadista, de conciliador, de alguém que propõe a síntese dialética dos dois últimos governos.
É evidente que muito, nisso, são palavras. "Dize-me com quem andas..." O cerne de um eventual governo Serra será quem o apoiou desde o início. Os convites ao PV e ao PT podem até acontecer, mas serão laterais. Não teremos um governo de conciliação nacional, e até acho isso pena: tenho defendido uma agenda mínima, política, mesmo que não financeira, para reformar o que perturba nosso sistema eleitoral, retarda nossa democracia, dificulta nossa república.
O que fica, do bate-boca, é um novo desafio ao PT. Talvez ele não consiga convencer que Serra é um novo FHC. Mas, no passado, o PT nunca temeu o debate. Deve apostar em sua capacidade de discussão. Deve fortalecer sua candidata. Isso é possível. Só que não é trivial. Lembremos que Serra venceu Marta Suplicy, em São Paulo, prometendo manter praticamente tudo que ela fez. Não propôs nada muito novo ou diferente dela. Serra está escolado na ideia de vender a continuidade de políticas petistas, oferecendo o quê? Um aprimoramento de gestão, a qualidade de sua imagem como administrador, isso somado à aversão que a direita nutriu, em parte da opinião pública, pelo Partido dos Trabalhadores.
Essa estratégia, que funcionou bem na cidade de São Paulo, funcionará no Brasil? São Paulo tem uma classe média conservadora. O Brasil é diferente. Mas Dilma tem menos experiência e exposição política que Marta Suplicy. Não dá para prever, ainda, quem se sairá melhor.
Dizem que Serra é rude; isso pode prejudicá-lo. Mas, por ora, ele quer mostrar que não precisa ser refém da direita. Em face de um presidente que acumula sucessos e que tenta transferi-los, Serra tem adotado a melhor estratégia possível. Só restaria, agora, ele defender a política externa de Lula.

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