Vox Populi abre o segundo ato da farsa
Às 20:02 de 3 de outubro, sob o título O grande naufrágio, um texto de três linhas fez aqui no Direto ao Ponto a constatação necessária:
Embora a apuração não tenha terminado, as pesquisas de intenção de voto, somadas, já permitem identificar os protagonistas do maior fiasco das eleições de 2010.
Foram os institutos de pesquisa.
No dia 9, o tema foi retomado pelo post que resumia a ópera dos malandros no título: Os comerciantes de porcentagens estão prontos para o segundo ato da farsa. Trecho:
Um dia antes da eleição, a última pesquisa do Vox Populi liquidou a fatura em favor de Dilma Rousseff: com 57% das intenções de voto, a candidata de Lula e do instituto foi dispensada da disputa do segundo turno por uma diferença de muitos milhões de cabeças. “Fomos os primeiros a identificar o crescimento de Dilma”, gabou-se Marcos Coimbra, presidente da loja de porcentagens. Esqueceu-se de combinar com as urnas: terminada a contagem dos votos, os 57% foram reduzidos a 46%.
Entre a profecia de Coimbra e o encerramento da apuração, quase 14 milhões de brasileiros sumiram misteriosamente no buraco negro escavado por 11 pontos percentuais. Em paragens civilizadas, os coimbras da vida passariam a semana sentados no meio fio, chorando lágrimas de esguicho e examinando as opções possíveis: sair em desabalada carreira ou apresentar-se à delegacia mais próxima, escoltado por um advogado que cobra por minuto. Mas o País do Carnaval ainda não aprendeu a tratar como criminosos os especialistas em estelionato estatístico. Sem medo de cadeia, os ilusionistas preparam outro lote de pesquisas forjadas para que se dissemine a certeza da vitória governista. Sem terem sequer balbuciado desculpas pelo fiasco no primeiro turno, estão prontos para o segundo ato da farsa.
Eles regressaram à cena do crime com movimentos furtivos de punguista. Para que a plateia iludida não explodisse em vaias, o Vox Populi, o Ibope e o Sensus trataram de aproximar seus resultados dos obtidos pelo DataFolha, o único que erra sem evidências de má fé. Seria demais instalar Dilma Rousseff, já na primeira pesquisa do recomeço da campanha, na folgada dianteira que ocupou até receber o corretivo das urnas. Mas comerciantes gulosos são impacientes. Nesta terça-feira, o Vox Populi inventou uma distância de 12 pontos entre a candidata do grande cliente e o adversário oposicionista.
A vantagem imaginária ajuda a abastecer o caixa da campanha, mantém elevado o moral das milícias, talvez reduza o entusiasmo das tropas inimigas. Brasileiro, raciocinam os fabricantes de algarismos, acredita em assombração, alma do outro mundo, ET de Varginha, até no que Lula diz. Por que não acreditar em institutos agrupados no Departamento de Pesquisas e Boas Notícias do PT?
Entre o levantamento da semana passada e o desta terça-feira, Aécio Neves desencadeou a vigorosa ofensiva do PSDB mineiro, Geraldo Alckmin acelerou a mobilização para ampliar a votação do candidato tucano em São Paulo, os governadores eleitos do Paraná e de Santa Catarina lançaram-se à consolidação da frente sul com o apoio dos chefes do PMDB gaúcho, os programas do horário eleitoral se tornaram mais consistentes — os ventos, enfim, sopraram a favor de Serra.
No mesmo período, Dilma reencontrou o palanque mineiro esvaziado pelo sumiço de Hélio Costa e Patrus Ananias, tripulantes do barco governista começaram a estender uma perna em direção à caravela da oposição, a candidata aprendiz atravessou um debate inteiro à beira do chilique, Lula perdeu a voz por alguns dias, Sérgio Cabral foi passear na Europa. Tudo somado, a coisa estaria de bom tamanho se Dilma ficasse no mesmo lugar. Marcos Coimbra achou pouco. E foram providenciados os 12 pontos.
Só quando os brasileiros estiverem a alguns metros das urnas virão as correções de curvas e súbitas mudanças nos índices, atribuídas a tendências de última hora. A metodologia é a de sempre. O que há de novo é a insolência que resulta da certeza da impunidade. Entre o estelionato do primeiro turno e o começo da reprise, passou-se apenas uma semana. Os envolvidos nas delinquências sabem que serão desmoralizados pelos votos e expostos ao deboche. Como não se assustam com isso, resta interromper-lhes o avanço com o Código Penal.
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