O senador eleito de Minas diz como ajudará na campanha tucana do segundo turno
RUTH DE AQUINO
Os momentos finais da campanha do primeiro turno foram de enorme pressão psicológica e emocional para o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, do PSDB. Além da ansiedade natural que a eleição provoca e do enorme assédio que sofre por liderar um colégio estratégico, Aécio perdeu o pai exatamente no dia de sua eleição como senador. “Foi inesperado, muito triste”, disse a ÉPOCA por telefone. “Mas agora precisamos pensar no futuro do Brasil e em Serra presidente.” Nesta entrevista, ele conta como está trabalhando para ajudar seu candidato.
ENTREVISTA - AÉCIO NEVES |
ÉPOCA – Qual é sua estratégia para virar o jogo em favor de Serra em Minas Gerais? Aécio Neves – Já há um movimento silencioso a favor de Serra, não só em Minas mas em outras partes do Brasil, por uma certa desconfiança do eleitor sobre quem é e o que pretende Dilma. Agora, sem contaminação de outras eleições, boa parte de quem votou em mim, Itamar e Anastasia deve votar, a meu ver, em Serra. ÉPOCA – Por que o mineiro que votou em Dilma no primeiro turno mudaria seu voto? Aécio – Brasileiros que votaram no primeiro turno em Dilma veem com indignação como o PT vem se comportando e estão se sentindo inseguros com as denúncias. O voto de Minas vale como o do Nordeste, onde precisamos diminuir as diferenças. E, claro, em São Paulo, onde precisamos avançar. O que está acontecendo de diferente em Minas é a grande movimentação nas bases políticas. Partidos como PSB, PTB e PR, que estavam condicionados à aliança nacional com a Dilma, agora estão mais livres. ÉPOCA – Quais são seus principais argumentos políticos para que a chapa “Dilmasia” passe a ser “Serrasia”? Aécio – O “Dilmasia” não era uma defecção de nossos prefeitos. O que havia era uma aliança muito ampla, com partidos coligados oficialmente com a Dilma. Eles não podiam trair essa aliança. Mas conseguimos neutralizar a oposição no governo estadual e no Senado. Os deputados não estão mais em campanha. E há uma vinculação maior do prefeito com o governador. O presidente da República é uma figura mais virtual. Em Minas, mais de 60% deram a vitória ao Anastasia. É um sentimento favorável ao PSDB. Sem candidaturas de partidos, é natural que a força do governador prevaleça. ÉPOCA – O senhor fala em riscos de um governo Dilma. Quais são? Aécio – Não se conhece em profundidade o pensamento da candidata, ou qual seria o papel do PT. Há o viés autoritário de setores do PT, externados por amigos da Dilma. O PT pecou por esperar que a eleição estivesse ganha. Protegeram demais a candidata e a distanciaram da alma, dos sentimentos das pessoas. O PT ergueu um muro em torno da Dilma, que a beneficiou parcialmente por não expô-la. Mas evitou a aproximação do eleitor. Assistimos até aqui a uma disputa entre o Serra e a candidata do Lula, a mulher do Lula. No momento da decisão, as pessoas começam a olhar nos olhos do candidato, a perceber quem está ao lado dele, e o Serra passa mais confiança e credibilidade. ÉPOCA – O PSDB já fez um cálculo de quantos votos podem ser tirados de Dilma para Serra no segundo turno? Aécio – Aí é chutômetro. Lógico que não é uma eleição fácil. Lula tem uma força muito grande em todo o país. Mas o quadro mudou. Estamos no início de um novo ciclo e vamos lutar por Serra. ÉPOCA – Por que Marina ganhou em Belo Horizonte? Foi voto verde ou de protesto? Aécio – Os votos em Marina migraram de indecisos e da Dilma, porque as pessoas se assustaram com as acusações no campo religioso, político e moral. Serra não conseguiu atrair esses votos. Marina foi um porto de espera, uma parada intermediária. E, por isso, acho que grande parte desses votos vai para o Serra. Os indecisos, agora, votam por rejeição. ÉPOCA – O senhor se considera a maior arma de Serra no segundo turno? Aécio – Não tenho essa presunção nem pretensão. Sempre cumpri meu papel, por mais que alguns não tenham tido compreensão em relação à conjuntura em Minas. Vou cumprir uma agenda, a pedido do Serra, em seis Estados. Para mostrar que Serra não é uma candidatura isolada, mas um projeto de Brasil. Geraldo (Alckmin), Beto (Richa) também. Somos um time, temos experiência, estamos juntos na proposta de um novo governo. Será bom para o PSDB, para o Brasil e pode ser bom para o PT ficar na oposição. ÉPOCA – Qual foi seu papel na aproximação entre Serra e FHC? Tirar o ex-presidente da invisibilidade foi mérito seu? Aécio – Esse distanciamento entre Serra e Fernando Henrique sempre me incomodou. Serra compreendeu agora – não o culpo sozinho por essa postura, porque há outras pessoas e circunstâncias. Mas o comportamento ideal era claramente assumir os méritos do governo FHC, o legado que ele deixou na democratização e na estabilidade econômica. Fernando Henrique teve problemas, mas também muitos avanços. Entre eles, a política de privatizações, vital para o país. Tivemos conversas pessoais nós três. E tudo foi ficando mais claro. ÉPOCA – O senhor diz muito que Minas é dos mineiros, e disse agora que o Estado “não se curva a intervenções”. É mágoa com Lula no primeiro turno? Aécio – Foi uma resposta à forma truculenta como os adversários tentaram conduzir o processo em Minas. Diziam que o governo estadual tinha de estar alinhado com o presidente. Quero dar então a nossos adversários a chance de ser coerentes agora. Como o governador é do PSDB, o presidente deve ser também. Foi o que eles falaram durante três meses. Mesmo Lula agiu com alguns exageros. ÉPOCA – Existe algum acordo seu com Serra para 2014, caso ele vença agora? Aécio – Insinuar um acordo desses é menosprezar a inteligência dele e a minha. Não é isso que me move. | QUEM É Ex-governador de Minas Gerais (2003-2010) pelo PSDB. Já foi deputado federal e presidente da Câmara O QUE FEZ Acaba de ser eleito senador, com 7,6 milhões de votos, ou 39,5% do total |
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