Mais de meio século de corrupção disseminada
Justiça não atinge os beneficiários, diz procuradora
Da Procuradora da República Raquel Dodge, em entrevista ao repórter Vannildo Mendes, publicada no jornal "O Estado de S.Paulo" nesta segunda-feira (2/11), ao ser questionada se a corrupção no Brasil está sob controle:
"Não. No Brasil, nós temos a corrupção largamente entranhada em vários setores do Estado. Em 1958, Nelson Hungria, quando fez análise do Código Penal de 1940, ainda em vigor, anotou que já naquela época a corrupção estava disseminada no Estado. Ele dizia: a Justiça é lenta, não atinge mandantes, nem os verdadeiros beneficiários da corrupção. Ela só tem conseguido alcançar os executores e intermediários. Temos de aprimorar a atuação judicial para que ela seja célere e também responsabilize os mandantes e os verdadeiros beneficiários da corrupção".
Sobre a qualidade da prova produzida pela Polícia e pelo Ministério Público:
"Precisamos melhorar muito. A prescrição penal ainda é um dos grandes fatores de arquivamento de investigações e, portanto, um dos grandes fatores de impunidade. Há demora na elaboração do inquérito. Mas precisamos também melhorar a qualidade da prova pericial e documental para que as condenações dependam menos das provas testemunhais. Hoje é um fardo enorme para o brasileiro ser testemuna de algum crime. Nós precisamos equilibrar isso, melhorando a qualidade dos documentos e das perícias que são feitas nas investigações".
(*) Responsável pelas investigações da Operação Caixa de Pandora, que levaram à prisão do governador José Roberto Arruda (DEM-DF), Raquel Dodge coordena a 2ª Câmara do Ministério Público Federal, responsável pelas matérias criminais e pelo controle externo da atividade policial.
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