Social-democracia no horizonte óbvio
Wilson Figueiredo
DEU NO JORNAL DO BRASIL
A categoria política do tipo considerado social-democrata, que não se deu conta do papel histórico que lhe coube, acaba de ser localizado na América Latina como quem não quer nada, por ninguém menos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Indícios e provas estão reunidos no seu livro Xadrez internacional e social-democracia e na entrevista concedida ao jornal O Globo (de 1 de agosto), quando já estava nas ruas a campanha eleitoral enrolada em questões pessoais dos candidatos. Ninguém ainda, neste e nos países vizinhos, havia chamado a atenção para os traços da social democracia disfarçados em semelhanças e diferenças universais.
O presidente Lula não presta atenção nem desconfia. Não é dado a pequenas diferenças. Pelas características que a teoria aponta e a prática desconhece, a social-democracia ainda se apresenta em estado bruto nos países latino americanos. Fernando Henrique soltou o verbo sem brigar com os ventos, mas não transpôs o atoleiro de acusações pessoais em que transitaram com dificuldade os dois candidatos no segundo turno da sucessão presidencial. E, para não sair salpicado, o ex-presidente deixou para depois uma página da qual a História do Brasil vai precisar. Na hora de conferir palavras e fatos, muitas soluções que começaram com Fernando Henrique e foram aproveitadas pelo seu sucessor, estarão na vitrina da social democracia. A concorrência vai levar um tranco.
No modo henriquino de avaliar o que se passou, sem entrar em discussões intermináveis, a social democracia não associou as soluções práticas a teorias nunca antes com bom trânsito por aqui. O PT e Lula se limitaram a depreciar como neoliberalismo o que o PSDB plantou em seus dois governos, o PT irrigou com mão boba e ainda sobrou para fazer de Lula credor do terceiro mandato. O próprio partido da social-democracia no Brasil trata ornitologicamente seus representantes, dirigentes e militantes como tucanos de plumagem discreta, para não melindrar nem provocar ninguém num país sem direita assumida (mas por aí o tempo todo).
Faixa ampla da sociedade também não consegue se situar claramente por dever muito ao passado e sacar contra o futuro, pela elementar incapacidade de distinguir onde começa a direita e onde termina a esquerda, tanto pelas diferenças quanto pelas semelhanças. O PT nem se lembra de que sua razão de ser era abrir uma picada para o socialismo. O presidente Lula fez, em carta equivalente à de Pero Vaz de Caminha, uma curva maior e passou longe do que falta. Lidos o livro ou a entrevista do autor Fernando Henrique, o horizonte fica mais óbvio e melhor entendido o passado recente. Já se vê, com melhores olhos, o Brasil no futuro imediato, sem o véu da fantasia lulista. O petismo já pode caber no leque de variedades do PMDB, com o qual a presidente Dilma Rousseff se abanará em breve.
Uma pena que se tenha perdido a melhor oportunidade, mas o que tiver de acontecer, quando tiver de acontecer, acontecerá. A questão da social-democracia é que se pode debitar à fatalidade pelas razões apontadas com elegância por Fernando Henrique: falta clareza suficiente a propostas e resultados, cada qual para seu lado.
É por aí que o ponto de vista do ex-presidente Fernando Henrique ganhou suficiente clareza. Já o presidente Lula precisará esperar, porque não há como agregar ao exercício do poder o reconhecimento do futuro. Se os partidos não fossem entre nós apenas formalidades legais, e a social democracia uma resignação disposta a esperar a apalavra da História, os oradores social democratas se sucederiam na tribuna parlamentar para mostrar que não é mera coincidência, mas materialização da social democracia o que se fez e se faz na confusão.
A categoria política do tipo considerado social-democrata, que não se deu conta do papel histórico que lhe coube, acaba de ser localizado na América Latina como quem não quer nada, por ninguém menos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Indícios e provas estão reunidos no seu livro Xadrez internacional e social-democracia e na entrevista concedida ao jornal O Globo (de 1 de agosto), quando já estava nas ruas a campanha eleitoral enrolada em questões pessoais dos candidatos. Ninguém ainda, neste e nos países vizinhos, havia chamado a atenção para os traços da social democracia disfarçados em semelhanças e diferenças universais.
O presidente Lula não presta atenção nem desconfia. Não é dado a pequenas diferenças. Pelas características que a teoria aponta e a prática desconhece, a social-democracia ainda se apresenta em estado bruto nos países latino americanos. Fernando Henrique soltou o verbo sem brigar com os ventos, mas não transpôs o atoleiro de acusações pessoais em que transitaram com dificuldade os dois candidatos no segundo turno da sucessão presidencial. E, para não sair salpicado, o ex-presidente deixou para depois uma página da qual a História do Brasil vai precisar. Na hora de conferir palavras e fatos, muitas soluções que começaram com Fernando Henrique e foram aproveitadas pelo seu sucessor, estarão na vitrina da social democracia. A concorrência vai levar um tranco.
No modo henriquino de avaliar o que se passou, sem entrar em discussões intermináveis, a social democracia não associou as soluções práticas a teorias nunca antes com bom trânsito por aqui. O PT e Lula se limitaram a depreciar como neoliberalismo o que o PSDB plantou em seus dois governos, o PT irrigou com mão boba e ainda sobrou para fazer de Lula credor do terceiro mandato. O próprio partido da social-democracia no Brasil trata ornitologicamente seus representantes, dirigentes e militantes como tucanos de plumagem discreta, para não melindrar nem provocar ninguém num país sem direita assumida (mas por aí o tempo todo).
Faixa ampla da sociedade também não consegue se situar claramente por dever muito ao passado e sacar contra o futuro, pela elementar incapacidade de distinguir onde começa a direita e onde termina a esquerda, tanto pelas diferenças quanto pelas semelhanças. O PT nem se lembra de que sua razão de ser era abrir uma picada para o socialismo. O presidente Lula fez, em carta equivalente à de Pero Vaz de Caminha, uma curva maior e passou longe do que falta. Lidos o livro ou a entrevista do autor Fernando Henrique, o horizonte fica mais óbvio e melhor entendido o passado recente. Já se vê, com melhores olhos, o Brasil no futuro imediato, sem o véu da fantasia lulista. O petismo já pode caber no leque de variedades do PMDB, com o qual a presidente Dilma Rousseff se abanará em breve.
Uma pena que se tenha perdido a melhor oportunidade, mas o que tiver de acontecer, quando tiver de acontecer, acontecerá. A questão da social-democracia é que se pode debitar à fatalidade pelas razões apontadas com elegância por Fernando Henrique: falta clareza suficiente a propostas e resultados, cada qual para seu lado.
É por aí que o ponto de vista do ex-presidente Fernando Henrique ganhou suficiente clareza. Já o presidente Lula precisará esperar, porque não há como agregar ao exercício do poder o reconhecimento do futuro. Se os partidos não fossem entre nós apenas formalidades legais, e a social democracia uma resignação disposta a esperar a apalavra da História, os oradores social democratas se sucederiam na tribuna parlamentar para mostrar que não é mera coincidência, mas materialização da social democracia o que se fez e se faz na confusão.
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