ENTREVISTA
Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB
Furioso com a 'ousadia do PT e da campanha de Dilma Rousseff', a quem responsabilizou pela violação do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do tucano José Serra, o PSDB subiu o tom. 'A campanha da Dilma e a ação eleitoral do presidente Lula representam hoje uma forte ameaça à democracia', diz o presidente do partido, Sérgio Guerra.
Surpreendeu ao PSDB a quebra do sigilo fiscal da filha do candidato José Serra?
É uma agressão sem precedentes na história da democracia do País. É deplorável. Os democratas do Brasil devem reagir a isso.
É uma reedição do caso dos 'aloprados', como ocorreu em 2006, na eleição para governador de São Paulo?
Em 2006, o alvo também era o Serra, mas o tiro saiu pela culatra. A lástima é que até hoje não se sabe de onde veio aquele dinheiro encontrado com os aloprados. No fundo, os petistas e a campanha da Dilma pensam que essa é uma questão que só interessa a 6 milhões de brasileiros que pagam Imposto de Renda e, portanto, não vai prejudicá-los no povo. Isso é o fim.
O PSDB atribui as violações de sigilo ao aparelhamento da Receita Federal?
Isso é mais grave que o aparelhamento. É uma prática típica das ditaduras. É o uso criminoso da máquina pública, por infiltrados de viés autoritário que agridem as instituições democráticas. O aparelho público está totalmente contaminado por esse viés autoritário e o presidente Lula colabora com isso.
O senhor está dizendo que a culpa é do presidente Lula?
Esta eleição ficou marcada por uma tendência que antes não foi tão nítida. Há uma força política que não tem limites para conseguir seus objetivos. Foi o presidente da República quem difundiu o padrão do desrespeito à lei, no momento em que recebeu a primeira condenação da Justiça Eleitoral e achou graça porque foi beneficiado por ela. Agora o próprio Lula se descola País afora, sem a menor responsabilidade com o cargo de presidente de todos os brasileiros, afrontando as regras gerais da democracia. Ele entrou numa campanha de arrastão para liquidar candidatos de oposição ao Senado.
Não é natural que o presidente trabalhe para eleger seus candidatos ao Congresso?
O objetivo do Lula não é fazer maioria; é fazer hegemonia. Lula quer transformar o Congresso em uma grande tropa de choque. Para isso, faz acusações políticas e pessoais a candidatos da oposição. Elege seus inimigos e vai combatê-los, em uma ação sem precedente na história. O que ele deseja é uma Câmara dominada na base favores e cargos públicos e um Senado sem capacidade de reação, o que é indispensável à democracia.
O PSDB não está protestando em função das pesquisas eleitorais, que indicam vitória da candidata de Lula em primeiro turno?
Nesta eleição, a decisão não é entre um candidato que tem mais experiência e liderança, e um envelope fechado de conteúdo desconhecido. A disputa se dá entre os que desejam o Brasil democrático de fato, e os que querem nos remeter a aventuras autoritárias.
O senhor está dizendo que a candidata Dilma Rousseff é uma ameaça à democracia?
A campanha da Dilma e a ação eleitoral do presidente representam hoje uma forte ameaça à democracia, sim. A ação do Lula para 'matar' senadores da oposição é o exemplo do que estou afirmando. É preciso ver as árvores e perceber a floresta.